Silêncio.
Quanto pesa esta palavra?
Poderá significar uma emoção positiva ou negativa?
Será presença ou ausência?
Encontro-me a sós com o silêncio. Num encontro sem cerimónia. Não precisamos de qualquer tipo de protocolo. Já nos conhecemos há imenso tempo e partilhamos de uma intimidade no seu estado mais puro. Temos uma relação muito próxima. Nem o constante ruído que se faz sentir lá fora me consegue afastar dele. Muito pelo contrário, cada vez mais, sinto necessidade dele. É o que mais próximo há de mim. Ninguém me conhece melhor. Ninguém tem um poder tranquilizante semelhante ao seu. Ele abraça-me com aquele abraço que envolve a alma. Ele conhece o meu olhar. Ele consegue suscitar o que de melhor há em mim. Mas enquanto o ruído é oferecido em cada esquina, ele tem de ser procurado. O barulho é da matéria, o silêncio é da alma.
O verdadeiro eu é aquele papel que desempenho com o silêncio. Sem espectadores. Sem palcos. Sem peça estudada. Apenas eu e ele. Despidos de tudo. Sem expectativas. Sem dívidas ou cobranças. O tempo congela. As horas parecem minutos esvoaçantes. No fim de cada encontro, estamos ambos com aquele sorriso de criança feliz, com vontade de recomeçar tudo de novo.
Mal nascemos e já estamos a contribuir para o ruído mundial, com o tão desejado choro de bebé, para satisfação dos pais. Os diálogos, apesar de barulhentos, são cada vez mais vazios. O saber ouvir, o silêncio nas conversas, para a reflexão, têm cada vez menos espaço. E ainda assim elas dizem cada vez menos. Conversas mudas de barulho. É cada vez mais raro encontrar pessoas que começam o seu discurso precedido de silêncio. Fazendo acreditar que vem ali um falar pensado. Já diz o conhecido provérbio que quanto mais vazia a carroça, mais barulho faz. Muita das vezes o ruído vem disfarçar grandes vazios.
Normalmente associa-se o silêncio a lindas paisagens paradisíacas, longe da cidade. Mas o que é de desconhecimento de alguns, é que esse silêncio se encontra em todo o lado. Basta procurá-lo e ele aparece. Um minuto de silêncio num dia agitado, em qualquer lugar, tem um poder revitalizante extraordinário.
O silêncio é essencial ao processo de auto-conhecimento. E não é só no silêncio da boca, mas o silêncio da mente e da alma. Talvez por isso, cada vez mais se procuram práticas como a meditação ou o Yoga, como forma de chegar até si. Uma vez que silenciar a mente se tornou uma tarefa muito difícil. Quase impossível.
O silêncio pesa aquele peso que tu lhe deste. Nem mais, nem menos. Pode pesar toneladas, como pode flutuar como uma pena em dias de verão sem bafo de vento.
A emoção associada a ele, é aquela que te invade a alma.
Será presença se gostares da tua companhia. Será ausência, sempre que tiveres necessidade da companhia de outrem para te sentires preenchido.
Bem hajam!
Margarida
Margarida
Gostei do turbilhao silencioso destas palavras.
ResponderEliminarGratidão de sintonia!
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