sábado, 20 de fevereiro de 2016

A nossa mascote



Animal de estimação é aquele animal que coabita connosco, que partilha o mesmo espaço, que faz parte da família. Para mim não existe outra forma de ter um animal de estimação. Ele faz, definitivamente, parte da família. É um membro da família. Quando se vêem aquelas fotos de família, existe sempre lá um animal que faz parte dessa família. Porque ter um animal é isso mesmo, seja ele cão, gato, coelho, porquinho-da-índia, periquito, ou outra espécie de eleição. 

Como o próprio nome indica é um animal que se estima. Que se lhe dedica tempo, esse bem tão precioso. Eu costumo dizer que se queres saber o quanto um ser é importante para ti, contabiliza o tempo que lhe dedicas, logo saberás a resposta a essa questão. A nossa mascote, vive connosco, ela não tem trabalho, amigos, actividades lúdicas. Ela vive exclusivamente para nós. Isto dito assim parece tão egocêntrico. Mas é mesmo assim. Certo que se nos referirmos aos gatos, eles são um pouco mais independentes, vão dar os seus longos passeios, e, não ficam todo o tempo à espera da atenção do humano. Mas o cão, esse é um dependente por natureza. Quer atenção e mimos a qualquer altura. Sim, porque embora ele perceba, pelos rituais e cheiros que não são horas para mimos, não quer saber, está ali para os receber. Eles são capazes de ficar horas, e mais horas, à espera da altura dos seus humanos chegarem. Porque esse é o momento alto do dia. E a alegria demonstrada é contagiante. Poderemos considerar-nos egocêntricos por ter um animal à nossa espera todos os dias, e, que nos faz sentir um ser mais amado à face da terra?! Claramente que não. Porque esse animal também é amado. E ele sabe disso das mais diferentes formas de demonstração que lhe são dadas.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Chegará o dia em que estaremos preparados para sermos pais dos nossos pais?



Deste palco a que chamamos de vida e que não permite quaisquer ensaios, sairá a nossa maior obra de arte. Deveremos encará-la como um filme em que somos os principais autores. Toda a produção cinematográfica está a nosso cargo. Somos os únicos responsáveis por esse filme.

Poder-se-à dizer, que o início desse filme é o fenómeno mais belo da nossa mãe natureza. A chegada de um novo ser, o início de uma nova vida. A alegria dos pais e de todos os familiares. As famílias cresceram como consequência do amor entre dois seres. Existirá algo mais belo?!

Aí se inicia o desempenho dos papeis dos diferentes actores desse filme. Os pais, enquanto progenitores e cuidadores, terão o papel vital nos primeiros tempos de vida desse ser. Esses primeiros meses, anos de vida, poderão mesmo ser decisivos no futuro adulto. Uma criança muito amada e educada de forma responsável, dará um adulto bem formado e preparado para a vida.

Alguns anos mais tarde, chega o momento em que a cria está pronta a sair do ninho e a levantar voo. Com algum receio, os pais incentivam-no ao seu primeiro voo. Vai, tu consegues! Se caíres, nós ajudamos-te a levantar. Mas vai! E à segunda, terceira tentativa, ele levanta voo em direcção à sua própria vida. A sua base está completa. Os pais deram por concluído o seu papel de educadores. Agora eles apenas querem saber se o filho está bem. Se a base o ajudou na formação da sua própria vida, e se fez dele um adulto feliz.

Esta fase é interessante, no sentido em que são todos adultos na família. O filho já seguiu o seu caminho, e, poder-se-à mesmo dizer que estão todos em pé de igualdade. Discutem-se ideias, temas de interesse comum, confraterniza-se em todos os momentos de reunião familiar. Aqui, no mundo dos adultos, todos assumem o seu papel, respeitando sempre  o espaço de cada um. Esse talvez seja o segredo do sucesso de muitas famílias. Apesar da família de raiz ser para toda a vida, sempre que não se respeita o papel de cada um nessa família, podem haver consequências desagradáveis a nível relacional no grupo. Como em todos os grupos, cada um tem de saber desempenhar o seu papel. Desengane-se, se pensa que pelo nome do grupo ser família, que não haverá regras a seguir e que terá livre arbítrio no mesmo.

Passam os anos e o tempo não pára. Em todo o sentido lato da palavra. O tempo passa pelas pessoas, ou, como prefiro dizer, as pessoas passam pelo tempo. Permitir que o tempo passe por nós, soa-me a uma vida que voa ao sabor do bando que a circunda, permitindo o tempo passar, de forma passiva. Já uma pessoa que passe pelo tempo, faz o seu voo de forma activa, escolhendo o canal de voo, tendo sempre em consideração que o tempo não pára e que esse voo tem de valer a pena, pois não tenciona repeti-lo. Começa aqui a inversão dos papeis. O filho bem formado, já conseguiu fortalecer as suas asas e já não precisa da ajuda dos pais. Por sua vez, pela ordem natural da vida, os pais vão enfraquecendo. Já não são o que eram. Já não são aquelas figuras de protecção a que se tinha acostumado. Agora são eles que começam a precisar de ajuda. Os pais apoiaram o seu primeiro voo, agora, o filho torna-se necessário para supervisionar os voos rasteiro dos pais. Pois a força está cada vez mais fraca e a saúde começa a escassear.

Começa aquela sensação de procura pela figura forte, que nos ensinou os primeiros passos. Mas agora é essa figura que começa a deixar de conseguir andar. A inversão dos papeis continua.

Eis que chega o momento em que eles precisam de todos os cuidados. Eles, aqueles seres que nos trouxeram ao mundo. Que nos ensinaram tanta coisa, que nos acarinharam, que fizeram tudo pela nossa felicidade, estão completamente dependentes de tudo e de todos. Tal como nós tivemos quando chegamos a este mundo. Mas agora no sentido inverso. Nós vimos a seguir à introdução do livro, mas eles já estão nas referências bibliográficas.

Passa-nos um misto de sentimentos no coração, passa-nos um misto de pensamentos na mente. Um rol infindável deles. Em poucos momentos a vida deles passa-nos pela mente, como que um filme em modo rápido, com todas as emoções inerentes a cada um desses momentos. Tudo começa a ter um cheiro de despedida. Sim, existe esse cheiro. Um aroma estranho que tem o poder de nos secar a boca, esvaziar o olhar e apertar o coração.

E ali estamos nós com os nossos pais que agora voltaram a ser bebés. Mas são uns bebés muito especiais. Eles não acabaram de chegar. Eles estão a preparar a partida. Seja lá para onde for, será uma partida. E nós? Nós estaremos preparados para este papel que também faz parte do palco da nossa vida? Ser pais dos nossos pais? Estamos?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Dia dos (e)namorados



Cá estamos nas vésperas de mais um dia a comemorar. Ou não? Talvez dependa.

As relações de hoje são muito apressadas. Num dia conhece-se, e, no outro já pouco há a conhecer, pois já se viu tudo. Claro está que não se conhece alguém num dia. Muita das vezes nem em muitos anos. Mas a velocidade com que os relacionamentos de hoje se desenrolam, é quase assustadora. Num dia conhecem-se, no outro casam, mas no seguinte já era. Claro que nos dias de hoje não se suporta um quinto das coisas que se suportava em tempos passados. Mas isso não implica que se perca tudo a que uma relação tem direito. A atracão, o encantamento, a conquista, as borboletas na barriga, a respiração ofegante apenas com um toque. Todo o processo é encantador. 

Hoje em dia, muitas das relações iniciam-se no mundo virtual. Começa-se pelas fotografias, trocam-se umas mensagens, marca-se um encontro, repete-se o encontro, ou não, e já era. Assustador! Os chamados relacionamentos voláteis. Os sentimentos são como as plantas. Tem de se plantar a semente, fazer a rega com cuidado tendo em conta as suas necessidades, tratar o seu nascimento com muito carinho, pois está numa fase muito delicada, falar com ela durante o seu crescimento, atento às suas necessidades, tendo sempre em atenção a luminosidade adequada. Tudo tem de ser feito de forma muito delicada. É um processo com uma beleza extraordinária, mas ao mínimo descuido, ela pode murchar e morrer. Sem qualquer hipótese de renascimento. Aí há que procurar uma nova semente. Um processo bastante delicado.

A forma como as relações de hoje se desenrolam, são de uma frieza e distanciamento medonho. Vazias, estéreis, sem valores. Depois os relacionamentos falham, e as pessoas assustadas, não estão mais receptivas a novos relacionamentos. Medos e frustrações impedem-nas de querer voltar a investir noutra relação. Completamente legítimo. 

Mas onde estão os relacionamentos verdadeiros? Ainda existem?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O poder do senhor Acaso




Uma vida com cem acasos no seu percurso, ou, uma vida sem acasos? Os acasos existem, ou, são meras justificações para o inexplicável imediato? Acasos de sorte e/ou azar, ou, fizemos algo, de alguma forma, para atrair aquele acontecimento? ...

Teria uma infindável lista de perguntas sobre este tema, que poderia relatar. Mas a questão de fundo é somente uma: o porquê. Porque nos acontece o cenário A, B ou C. 

Por segundos perdi o comboio. Foi azar, porque precisava de o apanhar para chegar ao meu destino. Ou, foi sorte, porque estava sem qualquer vontade, para chegar ao dito destino. Ou foi simplesmente obra do famoso acaso.

Quando poderemos, ou não, aplicar a responsabilidade ao acaso. Quem é esse senhor para o responsabilizarmos, do que quer que seja, que nos acontece nesta vida. Esse senhor deve ter umas costas bem largas. Porque é tão mencionado, em tantas línguas, em todo o mundo. Famoso, esse senhor. Como conseguiu ele ganhar tamanha celebridade. O porquê chamou por ele, e, na ausência de uma resposta imediata para esse porquê, ele, senhor Acaso, consegue responder a todo e qualquer porquê. Que poder!